ESCOLA DE PRÍNCIPES
ENCANTADOS
Eliandro Rocha
ANA JÚLIA:
Desde a primeira vez que o vi, sabia que aquele menino não era igual
aos outros que conheci.
ANA JÚLIA:
Diferente do bisavô, diferente do avô, e também diferente do pai.
ANA JÚLIA: Como
para todo menino nascido em berço real, somando ao fato de ser o
sucessor do rei, a vida para ele não foi nada fácil.
ANA JÚLIA:
Sempre bem vestido, não podia sujar-se nunca (COLEGAS
SUJOS DE BARRO CONVIDANDO ELE PARA BRINCAR LUCAS
E RAFAEL);
Educado
ao extremo, não tinha espaço para travessuras.
ANA JÚLIA:
Mas o pior veio mais tarde, quando o jovem príncipe completou dez
anos. Eu estava presente na ocasião, lembro-me de quando o rei
chamou e, repleto de orgulho, fez seu pronunciamento :
WESLEI:
Meuuu filhoooooo, meuuuu filhoooooo...
ÉRIK:
O que foi Papai?
WESLEI:
- Amanhã você vai ir para a escola de príncipes encantados. (ÉRIK
FAZ CARA DE ASSUSTADO E FICA TRISTE).
ÉRIK:-
Não quero ser príncipe encantado!
WESLEI:
- (GARGALHADA
ALTA)
Há há há há há há há.... Onde já se viu um futuro monarca não
querer ser príncipe encantado? Não na nossa família.
WESLEI:
- Venha comigo, vou lhe mostrar a sala das honrarias.
ANA JÚLIA:
Era um espaço muito grande e com poucos móveis. Havia um armário
com muitas medalhas e troféus; um móvel de madeira, no qual
repousava uma espada do rei; e uma armadura de pé, ao lado da
espada. Ao fundo da sala, brilhava um trono todo de ouro e na parede
atrás dele ficavam pendurados vários retratos.
WESLEI:
- Esse, meu filho, são nossos ancestrais, temos aqui toda a linhagem
dos reis da nossa família. E ali, bem no lado do meu retrato, há um
lugar especial para o seu. Todos esses grandes homens, que comandaram
o reino com bravura, antes foram príncipes encantados. Então,
acredito que você não vai querer destruir toda essa história.
ANA JÚLIA:
E mais uma vez, meu menino tentou argumentar:
ÉRIK:
- Mas, papai, não quero ser príncipe encantado, quero ser conhecido
pelo meu nome. O senhor nunca percebeu que ninguém sabe o nome dos
príncipes? As pessoas sabem o nome dos anões, dos animais, das
princesas e nunca lembram o nome dos príncipes encantados, que
escalam torres, desbravam florestas, matam dragões, procuram a dona
do sapato perdido, despertam princesas adormecidas e mesmo assim,
ninguém sabe como se chamam. Quero que saibam meu nome.
WESLEI:
(Fala
brabo e bate o pé no chão)
- Já chega, menino!
WESLEI:
- Nesta família todos vão para a escola de príncipes encantados e
você também vai.
PRISCILA:
O menino se calou, baixou a cabeça em uma tristeza profunda. Queria
ficar ali com ele, mas obedeço ao rei e tive que me retirar junto
com o meu soberano.
ANA JÚLIA:
Quando a noite chegou, e o rei estava a dormir, o príncipe entrou
nos aposentos reais, sem fazer barulho, e me levou para a grande sala
das honrarias. Sentou no trono do pai com a espada em uma mão e uma
maçã na outra. Deu uma mordida na fruta e me perguntou, ainda com a
boca cheia:
ÉRIK:
(Comendo
uma maçã de boca cheia)
- Você está em todos esses retratos, então deve saber. Serei um
bom rei? As pessoas me conhecerão pelo meu nome?
ANA JÚLIA:
Gostaria de ter todas as respostas, mas não posso prever o futuro.
Ele me olhava esperando que dissesse algo. Eu apenas devolvia o
olhar. (Entra
a Rainha Vitória)
Nesse momento, a rainha entrou, pegou o filho no colo e sentou-se no
trono. Olhou o menino profundamente e, como se pudesse ler seus
pensamentos, falou:
VITÓRIA:
- Meu filho, você será o melhor rei que já se viu em todos os
reinados.
(ÉRIK SAI E VAI
PARA A ESCOLA DE PRÍNCIPES).
ANA JÚLIA:
E foi assim, cheio de esperança, que meu menino foi parar na escola
de príncipes encantados.
( ENTRA DIÔNATAN,
LUÍS, DAVI COM ROUPAS DE PRÍNCIPES)
PRISCILA:
Na chegada, mostrou-se tímido, mas logo se enturmou com os demais
príncipes e percebeu que aquele lugar poderia ser divertido. Ficaria
na escola por oito anos, se não fosse à tragédia que aconteceu.
PRISCILA:
As aulas de boas maneiras ele tirou de letra, pois sempre foi muito
educado. Aprendeu com a rainha a ser amável com todos e elegante
sempre.
(ÉRIK ENTRA
AGITANDO UMA ESPADA E UM CAVALINHO DE MADEIRA)
PRISCILA:
O manejo da espada também não apresentou grandes dificuldades, pois
sempre treinou com a do pai na sala das honrarias. As brincadeiras
com sua espada de madeira e seu cavalo de pau também ajudaram muito.
PRISCILA:
Equitação foi um pouco difícil, alguns tombos e arranhões, mas
nada muito grave. Sempre respeitou os animais. Esse comportamento e
uns agradinhos foram importantes para o cumprimento da tarefa de
montar.
(ÉRIK PEGA O
DRAGÃO E COMEÇA A CHORAR)
PRISCILA:
Foi então que a aula de bravura se mostrou com toda a sua crueldade.
O príncipe precisava cortar a cabeça de um filhote de dragão
(ANDRIEL)
e mostrar a todos que era bravo.
PRISCILA:
O diretor da escola chamou o rei e lhe contou:
(WESLEI ENTRA)
GIANDREI:
- Nunca vi aquilo antes, o Príncipe chorava e gritava abraçado ao
dragão. E quando os colegas se prepararam para cumprir a tarefa,
ficou na frente do filhote pronto para atacar os outros príncipes,
impedindo que a turma toda o machucasse.
WESLEI SAI E
SENTA NO TRONO NO CASTELO
ANA JÚLIA:
Apesar de eu considerar esse ato de uma bravura notável, os
professores não pensaram assim:
(Entra a Brenda
Professora e chama o Príncipe Érik)
BRENDA:
Príncipe, Príncipe...
ÉRIK:
O que foi Professora?
BRENDA:
Você já deve estar imaginando o porquê estou lhe chamando.
ÉRIK:
(FALA
TRISTE) Sei
sim Professora.
BRENDA:
Pois bem, você não teve bravura o suficiente para cortar a cabeça
do dragão. Eu como sua Professora não achei isso correto, e a nota
que você merece por isso é ZERO. ENTREGA
O BOLETIM.
ÉRIK:
Zero?
BRENDA:
Isso mesmo e a partir deste momento você está expulso da nossa
escola.
(ÉRIK SAI DE
CABEÇA BAIXA E VOLTA AO CASTELO)
ANA JÚLIA:
Quando voltou ao castelo, o pai estava sentado no trono. Com
dificuldade, o menino caminhou até ele. Com as pequenas mãos
trêmulas, entregou ao pai o boletim. O rei nem tocou no papel, já
sabia do ocorrido.
ÉRIK CAMINHA
PELO CASTELO DE CABEÇA BAIXA, ENTRA A MÃE
PRISCILA:
O príncipe andava tristonho pelo castelo. Até que, numa manhã de
primavera, ouviu o rei falando de uma festa que daria para a rainha.
Nesse dia, a mãe, que tentava de tudo para alegrar o filho, chamou
ao castelo a costureira real:
ENTRA ISADORA
LEVANDO UMA MALA COM TECIDOS DENTRO, UM CADERNO PARA DESENHAR, METRO
PARA MEDIR.
ISADORA:
- Bom Dia Príncipe, sua mãe pediu que eu fizesse uma roupa para
você ir ao baile. Disse que é o menino mais corajoso que ela
conhece e quer lhe dar esse presente.
PRISCILA:
O rei assistia a tudo, calado.
PRISCILA:
A costureira abriu uma grande arca e convidou o garoto para escolher
os tecidos de sua roupa.
PRISCILA:
Eram muitas cores e texturas. Ele sorriu ENCANTADO.
PRISCILA:
O vermelho foi o primeiro a ser escolhido, pois parecia o mesmo da
capa de uma amiga.
PRISCILA:
Depois de anotar as medidas do príncipe, ela começou a desenhar a
roupa e um pedaço de papel e mais uma vez o pequeno sorriu.
PRISCILA:
A rainha encheu-se de esperança e o rei continuava em silêncio.
ISADORA:
-Tecidos escolhidos, medidas anotadas e desenho pronto, era hora de
voltar para casa e começar a costurar.
ENTRA TODOS OS
PERSONAGENS PARA O BAILE
PRISCILA:
O dia do baile chegou e todo mundo elogiou a roupa do Príncipe.
PRISCILA:
Mesmo depois da festa, as visitas continuaram à casa da costureira.
O rei não entendia, mas a pedido da rainha, que via o menino cada
vez mais feliz, permitiu a amizade entre os dois.
PRISCILA:
Alguns anos se passaram.
ÉRIK ENTRA E SE
SENTA PERTO DA MÁQUINA DE COSTURA.
PRISCILA: Numa
manhã chuvosa, ela não acordou mais. O príncipe VALENTINO, apesar
de muito triste com a morte da sua amiga, não deixou ninguém sem
receber as encomendas.
PRISCILA: Sim,
esse era seu nome. Príncipe VALENTINO.
PRISCILA: O
rei não aprovava a escolha do filho, mas quem mandava no castelo era
mesmo a rainha, que estava orgulhosa do príncipe.
ENTRA ÉRICA E
VITÓRIA. WESLEI DORME SENTADO.
ANA JÚLIA:
Foi numa tarde ensolarada que ela apareceu. Vinha acompanhada da mãe,
uma rainha muito elegante. Vieram de um reino distante, trazidas pela
fama de VALENTINO. Princesa SOFIA, era assim que a chamava, (ÉRICA
ENTRA E OLHA PARA ÉRIK)
estava muito triste e meu menino percebeu. Conhecia aquela tristeza
em seu olhar.
PRISCILA:
O Príncipe abriu a mala para que SOFIA escolhesse o tecido,
acreditando que isso a faria sorrir.
PRISCILA: Mas
ela não sorriu. Então, ele perguntou baixinho:
ÉRIK:
- O que aconteceu? Por que tanta tristeza nesses olhos lindos?
ÉRICA:
- Não quero ser rainha. Minha mãe quer que você faça o mais belo
vestido para me levar a um baile e oferecer minha mão em casamento a
um príncipe que nem amo. Não quero ser rainha! Não quero ficar
sentada ao lado de um rei cuidando dos filhos e dos afazeres reais.
Quero construir castelos. Quero desenhá-los e construí-los do meu
jeito.
PRISCILA:
VALENTINO
sentiu o coração disparar. Sem pensar muito, dirigiu-se até sua
mãe e a mãe de SOFIA e falou:
ÉRIK:
- Quero me casar com SOFIA!
ÉRIK:
-
(Gritou ele) –
Se
ela aceitar, é claro!
PRISCILA: O
rei, que dormia, acordou assustado.
PRISCILA: A
princesa não tinha pai, e a mãe era quem decidia seu futuro. A
jovem sorria com os olhos; percebendo isso, a rainha aceitou o pedido
e, naquele momento, foi selado o compromisso.
WESLEI PEGA A
COROA E ENTREGA PARA ÉRIK
ANA JÚLIA:
Foi então que, no dia do casamento, meu senhor, o rei, me entregou
ao meu menino. E daqui, do alto da sua cabeça, presenciei a mais
bela história de um príncipe que encantou a todos com a bravura de
ser e se tornou o melhor rei de todos os tempos.
ANA JÚLIA:
VALENTINO e SOFIA são muito felizes, cada um do seu jeito. Talvez
não para sempre, mas por um bom tempo!
TODOS OS PERSONAGENS
ENTRAM E SE DESPEDEM DO PÚBLICO.